Onde ficou o IPv5?
É estranho pensar que o protocolo internet evoluiu da versão 4 direto para 6. Muitas pessoas ficam confusas e é comum ver algumas especulações sobre essa numeração. Alguns tentam fazer alguma relação com a proporção de bits ou bytes presentes no campo de endereçamento ou até mesmo dizem ser algo relacionado à superstição dos programadores em que releases de número ímpar são sempre consideradas beta e não devem ser publicadas, por isso decidiram colocar a versão final com número par.
A resposta na verdade é muito simples. O número 5 no campo version do cabeçalho IP já vinha sendo usado pelo que foi chamado de Internet Stream Protocol, ou ST. É uma situação um pouco confusa, mas os ST, ST-2 e ST-2+ foram desenvolvidos como protocolos para aplicações como voz e vídeo, que demandam uma qualidade de serviço. O protocolo IP não é orientado a conexões, portando os pacotes geralmente são enviados com a política de "melhor esforço". O proposta do ST era bem parecida com a de redes ATM,mas em camada 3, trazendo controles e armazenamento de estado de conexões, enfileiramento e muito mais. Cada fluxo ST agrega o armazenamento de estado da conexão pelos roteadores e controles dinâmicos para garantir a qualidade de serviço. Como podemos ver na RFC 1190, o cabeçalho ST é completamente diferente
do IPv4, a não ser pelo primeiro campo que indica a versão(número 5):
Imagem original da RFC 1190. |
Como o ST seria incompatível com o IP foi designado o próximo número de versão para diferenciar os pacotes. Desde essa época o número 5 estava reservado para ele no campo versão do IP(camada 3) e número de protocolo(camada 4). A ideia é que roteadores pudessem diferenciar os pacotes logo na chegada verificando a versão, ou mesmo que pacotes IPv4 pudessem carregar pacotes ST encapsulados onde o número 5 seria o identificador do protocolo que estava sendo carregado. Na RFC 1060 já podemos conferir o número 5 com essa designação em "version numbers" e "protocol numbers".
Com o número 5 já em uso não faria sentido uma próxima versão levar esse número, por isso foi "pulado" para evitar confusão. O número 6 só apareceria designado poucos anos depois numa atualização do "Assigned numbers" - RFC 1700, ainda como "Simple Internet Protocol".
Repare que aqui já temos numeração reservada para os "concorrentes" do que veio a ser o IPv6. Inicialmente foi cogitado o número 7, esperando que o ST-2 usasse o número 6. Os números 7, 8 e 9 foram usados para identificar as propostas que vieram a ser mescladas na elaboração da arquitetura definitiva do IPv6. Sendo o número mais baixo disponível depois do 4, já usado na proposta do "Simple Internet Protocol" do mesmo Bob Hinden, o número 6 foi mantido para a primeira especificação oficial na RFC 1883.
Portanto, não espere que no futuro existam versões 7 ou 8 do IP, nem mesmo a 9 que já foi "queimada" em uma piada de 1º de abril. Os protocolos ST jamais saíram da fase experimental e IPv5 sequer existiu.
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